by Antônio Carlos Kantuta

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Admirável Mundo Louco

Vivemos a vertigem enlouquecedora do nosso tempo. O homem já não mais valoriza o estar com a família. Já não mais vai ao parque ou à praia com a esposa e os filhos. A mãe já não mais conta historinhas para a criança dormir, pois está diante da televisão engordando os índices da Rede Globo. O pai, trabalhador sub-remunerado, não consegue mais dormir preocupado com as faturas vencidas do cartão de crédito. Na escola, o estudante desconhece o sabor do saber graças ao massacrante sistema de ensino que preconiza o tecnicismo em detrimento da formação libertadora e do ensino humanizador. Enfim, fica cada vez mais evidente que para muitos a vida perdeu sua essência e seu significado sublimes.
Outrossim, ao passo que a vida moderna, em especial a vida urbana, mergulha seus tripulantes nesse turbilhão futurista de progresso, consumo e tecnologia, concomitantemente as condena a uma vida fútil e carente de memória, identidade, cidadania, consciência e reflexão. E é aí que surgem os grandes gargalos no tecido social moderno como a corrupção,  a violência, a marginalidade, a prostituição de menores, e toda sorte de vícios e mazelas. É também nesse momento que aparecem as múltiplas alternativas para o indivíduo superar esse cenário desolador. Por um lado o caminho árduo e desafiador do equilíbrio, da alegria duradoura, da busca por formas de vida criativas, inovadoras e saudáveis. Por outro, o caminho da ilusão, do prazer gratuito, dos milagres, dos atalhos para a felicidade.
Abordando inicialmente o universo da ilusão, verifica-se que a grande maioria das vítimas do alcoolismo e das drogas apresenta alguma lacuna em sua formação básica, seja no plano familiar, espiritual, psicológico ou social. Assim, ao render-se à alegria furtiva do álcool, por exemplo, o indivíduo intenta forjar um sentido para a vida, constituindo-se numa forma de superar alguma situação adversa, uma fuga da realidade cruel que o oprime, o que acaba por conduzí-lo a um círculo de dependência interminável. Possivelmente, esse fenômeno associado a outros desencantos da vida também explica a busca pelo prazer propiciado por outras drogas como o cigarro, os entorpecentes, a televisão, o consumo compulsivo e todas as outras drogas disponibilizadas nas vitrines do capitalismo. Assim, o mundo caminha para um futuro que ora se apresenta fascinante e cheio de luzes, ora se apresenta incerto e ameaçador, com sofisticadas máquinas e painéis holográficos disputando espaço com milhões de pessoas cada vez mais dependentes de altas doses de antidepressivos e clínicas psiquiátricas - que complementam o tal ciclo de vícios já apontado.
De outra maneira, assumindo um ponto de vista mais ponderado - para não dizer utópico, é possível pavimentar uma via equilibrada e sensata em meio a todo esse caos. Como o próprio Bob Marley diz em sua música Natural Mystic: “There’s a natural mystic blowing through the air”, ou seja, “há uma magia natural fluindo no ar”. De forma que, valorizar o ambiente familiar, dedicar um olhar curioso sobre a vida, fomentar o potencial imaginativo e criativo do ser humano, exercitar a sensibilidade através de uma arte genuína, viver a natureza, os relacionamentos, os amigos, as possibilidades do mundo, viajar e amar, são aspectos essenciais que devem ser realçados para se conquistar uma vida plena e saudável.
Nessa medida, é importante que nos vacinemos continuamente contra a droga dos entorpecentes e da dependência química, contra a droga opressora da indústria da cultura, contra a droga da xenofobia, da homofobia, dos preconceitos, das ideologias alienatórias e dos fundamentalismos religiosos, que são as principais ameaças à paz social.

Por Antônio Carlos Kantura, 2010.

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