by Antônio Carlos Kantuta

segunda-feira, 14 de março de 2011

Exu



Não sou preto, branco ou vermelho;
tenho as cores e formas que quiser.
Não sou diabo nem santo,
Sou Exu!
Mando e desmando, traço e risco, faço e desfaço.
Estou e não vou.
Tiro e não dou.
Sou Exu.
Passo e cruzo.
Traço, misturo e arrasto o pé.
Sou reboliço e alegria.
Rodo, tiro e boto;
jogo e faço fé.
Sou nuvem, vento e poeira.
Quando eu quero, homem e mulher.
Sou das praias e da maré.
Ocupo todos os cantos;
Sou menino, avô, maluco até.
Posso ser João, Maria ou José.
Sou ponto do cruzamento.
Durmo acordado e ronco falando.
Corro, grito e pulo.
Faço filho assobiando.
Sou argamassa, de sonho, carne e areia.
Sou a gente sem bandeira.
O espeto, meu bastão.
O assento? O vento!...
Sou do mundo, nem do campo, nem da cidade.
Não tenho idade.
Recebo e respondo pelas pontas, pelos chifres da Nação.
Sou Exu.
Sou agito, vida, ação.
Sou os cornos da lua nova;
a barriga da lua cheia!...
Quer mais?
Não dou, não tô mais aqui.
 

Exu, poema do escultor Mário Cravo para Jorge Amado.
Salvador, 1993.

2 comentários:

  1. Excelente texto Antony!!!

    ótimo blog... sempre gosto de aparecer por aqui.. apesar de quase nunca comentar...

    abraçãoo

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