by Antônio Carlos Kantuta

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Artificialmente limpa pelo processo Olivetti de tecladismo estéril, a MPB ultimamente não tem correspondido à violência do país que a produz. Pelo menos a MPB letra O, emanada da burocracia do show-bizz e do oficialismo político do bom humor a preço de hiena. Fernando Pellon vai chocar essa hipocrisia generalizada vendida com rótulo de bom gosto e status. "Nunca gostei de eufemismo", vai logo cantando ele. E dá nome às doenças, como fazia Augusto dos Anjos, com um requinte de morbidez que aida perde, no entanto, para crueldade exibida diariamente por nossas autoridades mais altas. Quem quiser se assuste com Pellon, que também recobra tradições estabelecidas por arautos das campas tão divergentes quanto Nelson Cavaquinho e Vicente Celestino. Para isso.basta ouvir "Flores de Plástico ao Amanhecer". Já o nosso recente Aldir Blanc também poderia ter assinado algo tão flagrante como "Carne no Jantar". E por aí afora, só para que não se pense que Fernando Pellon é um estranho no ninho, ou alienista fugaz. Melhor que situar tão precocemente sua obra é ouvi-la, com ouvidos desarmados de preconceitos. O poeta vale a pena, o violão, os convidados e os arranjos de João de Aquino e Paulinho Lêmos.
Tárik de Souza



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